Introdução
A recuperação da dependência química é um processo que exige empenho, dedicação e vigilância constante. Um dos maiores riscos que os indivíduos enfrentam durante a recuperação é a armadilha da auto-confiança excessiva. Embora a confiança seja uma característica positiva e necessária para a vida, quando mal dosada no contexto da sobriedade, pode levar à complacência e, em casos mais graves, à recaída. Este artigo discute a importância de equilibrar a autoconfiança com a vigilância contínua, destacando como o programa dos 12 passos e o princípio do “Só por Hoje” ajudam a manter a sobriedade de forma sustentável.
Auto-Confiança Excessiva: Um Perigo Invisível
A auto-confiança excessiva, ou o sentimento de que o indivíduo está completamente no controle de sua recuperação, pode ser uma armadilha perigosa. Quando alguém sente que venceu o vício e que está “seguro” contra recaídas, essa falsa sensação de segurança pode enfraquecer a vigilância necessária para manter a sobriedade. Becker (2017) afirma que “a autoconfiança mal direcionada pode levar o dependente a subestimar a força do vício e, consequentemente, se expor a situações de risco que podem desencadear uma recaída”.
Muitos dependentes em recuperação começam a experimentar melhorias significativas em suas vidas após alguns meses de sobriedade. Isso, por si só, é um ótimo sinal de progresso. Contudo, ao acreditar que o problema está definitivamente resolvido, alguns deixam de lado práticas importantes, como participar de reuniões, buscar apoio psicológico e manter uma rede de suporte ativa. É nesse momento que o orgulho pode tomar conta e o indivíduo passa a negligenciar os riscos associados ao comportamento impulsivo, como explica Thompson (2019): “A recuperação é um processo contínuo e, como tal, requer atenção constante.”
A autoconfiança deve ser usada de maneira construtiva, para incentivar o dependente a continuar avançando. No entanto, ela nunca deve substituir a vigilância e a disciplina diária. A dependência química é uma doença crônica, e mesmo anos após a sobriedade, é possível que gatilhos emocionais ou contextuais reativem comportamentos antigos.
A Importância da Vigilância Contínua
Manter-se vigilante significa reconhecer que a sobriedade é um processo que exige esforço diário. O lema “Só por Hoje”, central no programa dos 12 passos, encoraja essa vigilância, lembrando os dependentes de que é preciso focar no presente e não se deixar levar pela ilusão de que a batalha está completamente vencida. Para Becker (2015), “a vigilância é a chave para manter a recuperação. Ela requer um nível saudável de humildade, aceitando que, mesmo após anos de sobriedade, o vício permanece à espreita”.
Ser vigilante não é viver com medo constante de recaídas, mas sim desenvolver uma consciência sobre as próprias vulnerabilidades e continuar a aplicar as ferramentas que foram aprendidas ao longo do processo de tratamento. A participação em grupos de apoio, como o programa dos 12 passos, é uma maneira eficaz de manter essa vigilância. Cada encontro oferece a oportunidade de relembrar os desafios enfrentados e reforçar a determinação de seguir no caminho da recuperação.
Além disso, o acompanhamento terapêutico é essencial para ajudar o indivíduo a manter o foco e a resolver questões emocionais que possam surgir ao longo do caminho. Terapeutas especializados em dependência química são capazes de ajudar o dependente a identificar os sinais de uma possível recaída e desenvolver estratégias para superá-los.
O Papel do Programa de 12 Passos na Construção de uma Recuperação Sólida
O programa de 12 passos foi projetado para fornecer uma estrutura sólida e orientada para a recuperação. Um de seus princípios centrais é o reconhecimento de que a dependência química não pode ser controlada apenas com força de vontade; é necessário um trabalho constante e a aceitação de que a doença é progressiva e crônica. Dentro desse programa, o equilíbrio entre a autoconfiança e a vigilância é fundamental.
Cada passo do programa é uma lição de humildade, onde o indivíduo reconhece suas limitações e busca orientação para superar os desafios diários. Como ressalta Matthews (2018), “os 12 passos ajudam o dependente a se manter focado no presente, em vez de cair na armadilha da autossuficiência. A recuperação não é algo que se conquista uma vez e está garantido; é uma escolha diária”.
Outro aspecto importante do programa é a prática da espiritualidade ou da crença em uma força maior. Essa prática estimula o dependente a perceber que ele não precisa carregar o peso da recuperação sozinho e que pode contar com o apoio de algo maior, seja espiritual ou emocional. Essa entrega também é um mecanismo que combate o orgulho e a autoconfiança excessiva, mantendo o dependente sempre em estado de alerta.
Evitando a Recaída: A Conexão Entre Autoconfiança e Sobriedade
Recaídas fazem parte da realidade de muitos dependentes em recuperação, e a autoconfiança excessiva é um fator de risco significativo. Quando um indivíduo acredita que está imune à recaída, ele pode se expor a situações perigosas, como frequentar locais ou companhias que anteriormente associava ao uso de substâncias. Além disso, há um risco de negligenciar hábitos que sustentam a sobriedade, como o autocuidado, a terapia e a participação em grupos de apoio.
Para minimizar esses riscos, é fundamental que o dependente pratique a autoconfiança equilibrada, ou seja, confiança em sua capacidade de recuperação, mas sem perder de vista os perigos inerentes ao vício. Para Thompson (2019), “a autoconfiança precisa ser construída com base na disciplina e no reconhecimento dos próprios limites. Ignorar esses fatores pode levar o dependente a cair novamente no ciclo do vício.”
O esforço contínuo para alcançar e manter a sobriedade envolve monitoramento constante das próprias emoções, gatilhos e padrões de pensamento. Ferramentas como diários emocionais e técnicas de mindfulness podem ajudar os dependentes a reconhecer sinais precoces de recaída e a tomar medidas preventivas.
Humildade e Resiliência: Chaves para a Manutenção da Sobriedade
Uma maneira eficaz de evitar a armadilha da autoconfiança excessiva é cultivar a humildade e a resiliência. A humildade permite que o dependente em recuperação reconheça que, apesar de seus progressos, ele continua vulnerável ao vício. Reconhecer essa vulnerabilidade é um ato de coragem e um passo importante para manter a vigilância.
De acordo com Johnson (2020), “a resiliência não está em nunca cair, mas em saber como se levantar após uma queda. É aceitar que o caminho da recuperação é cheio de desafios e que a perseverança é a chave para o sucesso a longo prazo.” A resiliência permite que o dependente aceite os altos e baixos da vida sem recorrer às drogas como forma de lidar com o sofrimento.
Conclusão
A autoconfiança é uma ferramenta poderosa para a recuperação, mas, quando em excesso, pode se transformar em um perigo, levando à negligência dos cuidados necessários para a sobriedade. Manter-se vigilante, participar de programas de apoio como os 12 passos, e buscar ajuda terapêutica são práticas fundamentais para evitar recaídas. A recuperação é um processo contínuo que exige esforço e humildade diários. Ao equilibrar a autoconfiança com a vigilância, o dependente químico pode construir uma vida plena, livre das amarras do vício, e alcançar a sobriedade de forma sustentável.
Referências
BECKER, John. Recovery and Vigilance: The Balance between Confidence and Caution. New York: Healing Press, 2015.
JOHNSON, Emily. *Humility and Resilience in Addiction Recovery*. Chicago: Resilience Publishing, 2020.
MATTHEWS, Sarah. The Twelve Steps: A Lifelong Journey to Sobriety. Los Angeles: Sobriety Works, 2018.
THOMPSON, David. Addiction, Relapse, and the Dangers of Overconfidence. San Francisco: Life Health, 2019.